quinta-feira, 15 de julho de 2010

Caneta e Papel


O traço não precisa ser perfeito
Quando as mãos sentem que têm total controle sobre este instrumento de registro
Algo comunica a mente e toca o coração do poeta

Então a mágica acontece
A caneta risca o papel
As letras se unem formando palavras...
Como uma colcha de retalhos, uma mensagem se forma...

O poeta é artesão
Com uma única matéria prima
Faz seu artesanato letrado,
Que nunca repete a mesma imagem na mente de quem lê

Toca corações, faz chorar, lembrar, sentir saudade...
Saudade, sentimento brasileiro... Engraçado até...

Feliz da caneta
Que além de ajudar na fabricação da palavra
Enquanto trabalha
É acariciada pela mão do dono...
O POETA


Rafaela Gomes

Aluno e pai de aluno também têm culpa!

Há pouco mais de uma semana fui a Matinhas – PB, cidade que fica mais ou menos 20km distante de Campina Grande, fazer uma matéria sobre os dados do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

No direcionamento da pauta, um pedido: falar com a diretora da escola Municipal, cujo nome não me recordo no momento. Por quê? Toda pauta tem um porque, não é? Pois é... essa tinha um porque triste. Quatro escolas paraibanas tiveram as piores notas do país. Numa escala de zero a dez, todas tiveram notas abaixo de um. Esta, que fica em Matinhas, teve 0,7.

Chegando lá, alunos pelos corredores com pouca cara de preocupação. Era recreio! Em sala, estudantes sem cadernos, alguns só tinham uma única folha para fazer todas as anotações do dia... E um professor, acanhado com a presença da câmera, folheando um livro para aparecer bem “na fita”.

Minha opinião? A culpa não pode ser toda depositada nas costas de direção e professores. Enquanto não educarmos a população de forma que compreendam que aprendizado eficaz é aquele onde governo, escola, ALUNOS e PAIS estão presentes, nada dará certo! Nada mesmo... Nem os cálculos do IDEB!
Rafaela Gomes

domingo, 11 de julho de 2010

Saudade


É bom sentir saudade
Principalmente diante da possibilidade de um dia matá-la
Passar o dia tentando cumprir seu trabalho
E de vez enquanto se pegar quieto
Sonhando de olhos abertos
Pensando e relembrando cada traço, cada riso, tudo... Tudo...
Será só saudade essa vontade de olhar nos olhos
De estar perto ou de ser qualquer coisa que te toca neste momento?
Inveja do vento nos teus cabelos, do sol que arde nos teus olhos
Da areia que insiste em ficar presa nos teus pés
De cada objeto que pode sentir o toque das tuas mãos...
Não sou poeta, não sou nada
Na verdade nem sei fazer rimas
Sou só alguém cuja saudade deixou angustiada
E não pode mais guardar o que sente

Rafaela Gomes

Os presentes e o sim...

Ele tem uma forma circular
E um desenho cujo
Significado foge a minha
Capacidade intelectual de interpretação...

Quero seguir seu dono,
Mas obstáculos me impedem de viver este sonho...
Insegura, assim que eu me sinto
Diante do medo de te perder para o tempo e a distância...


Quanto tempo vai durar?
Quanto tempo vou agüentar?
Será você que irá realizar meu sonho de cavalheirismo
Com cordialidades embrulhadas em papel celofane, de pétalas cor de carne?

A hora certa de mudar é aquela em que você decide que é a hora!
Eu não posso desistir diante do seu esforço
Vou continuar até realizar
Minha mente não é mais dicotômica

Não tenho dúvidas
Não têm SIM e NÃO
Só tem SIM
E este SIM é para você!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O que potencializa e o que fragiliza a mídia regional, levando-se em consideração o caso paraibano?

NÃO LEIA SE ACHA QUE ISSO NÃO É PROBLEMA SEU!

Particularmente, a situação paraibana é preocupante e vive um momento de mais fragilidades do que de potencialidades. Na realidade as potencialidades existem em toda parte, difícil é reconhecê-las. Infelizmente o comodismo da produção nas redações deixa de incentivar o profissional que vai as ruas apurar os fatos e transformá-lo em texto.

O texto jornalístico não é uma produção exclusiva, e sim um conjunto de obras, uma obra coletiva. O texto que o pauteiro copia da internet para se transformar em dado a ser citado na matéria, a dica que o colega de trabalho dá para o repórter explorar em sua matéria, as alterações que o editor faz. Nada é feito exclusivamente e se um destes profissionais não estiver disposto a fazer o seu melhor, nada dará certo. E isso não acontece só na Paraíba.

O nordeste nunca foi visto pela mídia, seja nacional ou local, com um poder em potencial. Somos caricatos. Somos o povo sofrido, somos a lata d’agua na cabeça, somos o burro com sede pisando no chão rachado. Se nós somos isso e sempre somos só isso, como explorar outros acontecimentos, outras visões, outras pautas.

Exemplo disso são os especiais promovidos pela Rede Globo através do Jornal Hoje todos os anos. O espectador liga sua televisão, e como se tivesse algum poder de prever acontecimentos, já sabe o que vai assistir: Campina Grande (PB) versus Caruaru (PE), Bacamarteiros do Pernambuco, guerra de espadas na Bahia, o barco que “voa” no Sergipe, o forró de plástico do Ceará competindo com o “Pé de serra”...

O nordeste não é só isso. A Paraíba não é só isso. Campina Grande vive atualmente um momento brilhante, mas que pouca gente já tomou conhecimento. Temos a maior concentração de Pós-graduados do país. Quantos programas explorando o jornalismo científico poderiam ser feitos? Quantas entrevistas descontraídas que levariam conhecimento ao publico poderiam ser feitas?

Esse belo dado me entristece, quer saber porque? Apesar dele a Paraíba tem 70% de sua população sendo de analfabetos funcionais. Quantas pautas de utilidade publica e esclarecimento poderiam se tornar material interessante nas mãos do povo? Mas isso não acontece.

Vivemos uma política triste, que se aproveita de seu poder dentro das redações, modificando pesquisas e manipulando pessoas desinformadas. Para quê um gráfico na capa do jornal se pouquíssimos saberão interpretá-lo? Não sei responder!
Com um centro de pesquisa em tecnologia na UFCG e a Embrapa, teríamos pelo menos uma matéria com CONTEÚDO por semana. Mas não temos. Patos tem um pólo calçadista que poucas vezes é lembrado. Infelizmente também tem um tráfico de drogas que ninguém tem coragem de mostrar.

Com um mercado fechado como o nosso a saída para alguns profissionais que não se contentam com pouco é na maioria das vezes partir do estado para perseguir o sonho de fazer uma carreira de sucesso. Por isso as redações estão muitas vezes recheadas de pessoas desestimuladas. Isso afeta a qualidade da produção final e consequentemente, com uma baixa qualidade do que chega na casa do ouvinte, do leitor ou do espectador, a diminuição da audiência ou tiragem do jornal, no caso da mídia impressa é evidente.

Saber mediar o conflito de modo que a vida e a liberdade do outro sejam preservadas é uma questão de educação formal e informal. Isso toca num ponto muito importante: o respeito. Respeitar público, respeitar fontes, respeitar entrevistados. Tudo isso contribuiria para o fazer jornalístico se fosse cumprido, mas não é.

Tirar proveito das deficiências culturais de um povo que nunca recebeu nenhuma parcela da divida educacional não está correto. Agir como se isso não fosse problema nosso, mais ainda. Classificar jornalismo em opinativo e não-opinativo para se desculpar sobre este assunto não é a melhor saída. O melhor é cumprir com seu papel de servir a sociedade e reivindicar pelos direitos.

Enquanto ninguém faz nada para mudar isso a agenda setting das redações corre solta na boca da população: Hoje vamos falar de Copa do Mundo. E realmente todos falam, entretêm. E o senado simultaneamente o fim do 13° salário é votado. Isso em uma rapidez jamais vista antes. Ainda mais quando tiram nosso direito para converte-lo em aumento para eles mesmos, como foi neste caso.

O global se transformou em regional para embaçar as pupilas de nossa gente. A África do Sul nunca foi tão comentada, mesmo sem muita gente saber apontá-la no mapa, principalmente aqui. O patriotismo é grande. Bandeiras nas ruas, verde e amarelo tomam conta e os jornais mostram sempre o lado alegre. E nas eleições? Vamos vestir verde e amarelo? Não.

Outra coisa, o trabalhador que sai da redação com a tarefa de apurar a noticia munido de seu equipamento (microfone, gravador, câmera) sente-se forte, sente-se grandioso, melhor que o outro e esquece que o personagem principal é a pessoa que fala e não ele próprio. Por estar sempre na mídia, com seu nome aparecendo no crédito das matérias, nós às vezes acabamos esquecendo de que jornalista não é artista. Muita gente entra nessa profissão avistando um salto para a fama.

Dentre tantas outras coisas para criticar, melhorar e observar uma delas é o cuidado que devemos ter com o uso da língua. No nosso caso, a oralidade é uma questão frágil a ser discutida. Somos criticados diariamente pelo nosso sotaque, mas especialistas fonoaudiólogos afirmam que isto é algo que já foi determinado geneticamente através da evolução da espécie.

O céu da boca do nordestino tem um formato que faz com que sua voz seja diferente da do sulista, por exemplo. Uma das explicações seria o calor daqui, que adaptou fisicamente essa parte do nosso corpo e acabou afetando a nossa voz. Mas será mesmo que o sotaque é um fator tão importante? Uma boa locução, narração não seria suficiente para o público.

Essa questão me parece muito mais uma “necessidade” criada pelos próprios meios de comunicação do que algo que vá beneficiar de alguma forma a compreensão do que foi passado para o espectador/ouvinte.

O que devemos realmente nos preocupar e buscar melhorar são nossos textos, diminuindo erros e confirmando a veracidade do que é dito. Já que na chamada “era da informação” a linguagem serve como moeda de circulação dos fatos, vamos ser mais cuidadosos com o que chega nos lares das pessoas. Não só regionalmente, mas globalmente. Aqui e em qualquer lugar, porque do contrario do que muitos pensam, o que os olhos deles vêem e os corações e mentes sentem.


Rafaela Gomes de Oliveira

CHAPÉU DE COURO: O capacete do vaqueiro nordestino

“Quem usa chapéu de couro
simboliza a região,
tem as raízes da terra
plantadas no coração”
Biliu de Campina





O Chapéu de couro é um símbolo do vaqueiro nordestino e faz parte da indumentária de proteção juntamente com o gibão e a perneira. Com esse conjunto o vaqueiro está pronto para se embrenhar na caatinga e capturar aquele boi mandingueiro, sem medo de se estrepar nos garranchos. “Vaqueiro que é vaqueiro só tira o chapéu de couro pra tomar banho, dormir ou quando está na missa.” É o que costuma declarar nas rodas de amigos o vaqueiro Manoel de Germano que aos 60 anos ainda se dana dentro do mato atrás de boi brabo.

A indústria cultural não conseguiu tirar de circulação o velho e autêntico chapéu de couro, usado por Luiz Gonzaga, Lampião, Dominguinhos, Santana e tantos outros. Surgiram variações, mexeram no designer, inventaram novas técnicas de tratar o couro, mas ele continua firme e forte na cabeça dos nordestinos e até mesmo de turistas internacionais.

Atualmente a maior produtora de chapéu de couro do Brasil é a cidade de Cabaceiras no Carirí paraibano, situada a 180Km da Capital João Pessoa. Cabaceiras é uma das cidades que menos chove no mundo e é conhecida como a”Roliúde Nordestina” por atrair produções cinematográficas, a exemplo do filme Auto da Compadecida,gravado no município.

Cabaceiras possui um dos maiores rebanhos de ovinos e caprinos do estado. É um grande celeiro de artesanato em couro, a partir da pele de bode, curtida através de processo vegetal e utilizado na confecção de bolsas, sandálias, cintos, coletes, gibão, chaveiros, celas, arreios e o tradicional chapéu de couro.

A ARTEZA , uma cooperativa situada no Distrito de Ribeira à 14Km da cidade, reúne 8 fabricas de artefatos em couro, seis com sede no próprio distrito e duas em Cabaceiras. Atualmente mais de 300 pessoas, que antes não tinham renda, estão envolvidas no trabalho de produção de artefatos, inclusive na fabricação do chapéu de couro.

Em companhia do artesão José Carlos Castro, presidente da ARTEZA, visitamos algumas das fabricas em Ribeira. Uma delas foi a de seu José Guimarães que mandou abrir o seguinte letreiro na fachada: ARTESANATO DO ZÉ, O REI DO CHAPÉU DO CHIFRE. Eles fabrica diferentes modelos de chapéus com destaque para o chapéu de couro que já vem com um par de chifres de bode.

Lá dentro da oficina, uma grande surpresa. Quando você pensa em couro de animal logo vem à lembrança daquele cheiro forte. Pois é, não foi assim. Essa é a grande diferença do material que é produzido na região de Cabaceiras. Em parceria com a UFCG – Universidade Federal de Campina Grande a ARTEZA desenvolveu uma técnica de tratamento do couro que envolve a fermentação, no qual ele não fica com aquele cheiro forte que estamos acostumados a sentir por aí.

Para Carlos Castro, a grande vantagem de se trabalhar com o couro de caprinos e ovinos é a elasticidade, a facilidade com que ele ganha forma, diferente do couro do boi. Experiente, Carlos nos deu uma aula de como fabricar o chapéu. O couro do animal é levado para o curtimento vegetal. Lá ele é tratado, pode permanecer cru, com ou sem pelo, ser tingido ou não.

Na segunda parte o couro é cortado, dependendo das medidas determinadas. Tudo feito à mão por jovens artesãos. No início eles tiveram que promover uma espécie de campanha para recrutar jovens para trabalhar nas oficinas e conseguiram treinar 30 pessoas. Na última vez que abriram vagas já foram 167 interessados que desta vez participaram de uma seleção. Eles têm que ter bom desempenho escolar para poder trabalhar nas fábricas.

Depois do corte o couro é molhado para ficar mais elástico e assim ser colocado nos moldes. É lá que eles ganham forma e vão para a secagem. Esse processo depende da temperatura ambiente e pode durar duas horas ou mais. Como chove pouco por lá, isso não é um grande problema.

Em seguida, o chapéu ganha a aba que vai proteger o rosto do vaqueiro do sol. Na Paraíba ela se caracteriza por ser curta. Em regiões como a Bahia ela costuma ser maior. Mas na oficina do Zé eles fazem de acordo com o gosto do comprador, com o pelo do animal e a aba branca, por exemplo.

A última etapa é a costura. Primeiro ele vai para a máquina de costura reta receber o acabamento, mas os desenhos e aplicações ficam por conta da máquina a mão, que apesar de ser mais trabalhosa é quem vai dar riqueza de detalhes ao chapéu.

Carlos castro viu o pai, José Ambrósio de Castro, produzir chapéus e trabalha com isso desde criança. Com apenas treze anos foi questionado por ele sobre o que queria fazer da vida. Carlos não contou conversa e sem demora respondeu: CHAPÉU DE COURO! Aos quinze já tomava conta de uma fábrica e de lá pra cá só tem ajudado a espalhar o nome de Cabaceiras.

A qualidade do material e da produção é tanta que eles chegam a fazer até 3.600 chapéus por mês e vendem também para vários estados do Brasil e até para o exterior. “As vezes falta matéria prima e pessoal qualificado para atender a demanda” diz Carlos, que se orgulha de ter confeccionado chapéus de couro para artistas e personalidades do país inteiro.

O preço de um chapéu de couro na fonte varia de R$ 8,00 a R$ 30,00 e um gibão bem trabalhado chega a custar até R$ 500,00.

Agora você já sabe. A cidade de cabaceiras na Paraíba produz um chapéu de couro de primeira, um chapéu que não tem cheiro, não deforma, não solta as tiras e apresenta estilos arrojados, incluindo chifres.


Rafaela Gomes de Oliveira