domingo, 11 de abril de 2010

Eu e meus superiores



O editor tem a difícil tarefa de “editar”. Editar é selecionar, cortar, determinar o que deve ou não ser mostrado e explorado em qualquer produto jornalístico. Mas esse profissional hoje acumula uma tarefa: a de gerenciar pessoas e administrar os problemas que acontecem no dia a dia de uma empresa não é fácil. Tomar decisões não é para qualquer um, por isso editores geralmente são pessoas que durante a sua carreira mostraram que compartilham das mesmas idéias das empresas(donos delas) ou de seus financiadores.

Cada empresa tem seus interesses a serem defendidos e um “pacote” com normas de conduta, que o editor absorve e põe em prática na produção. Ele veste essa camisa e acaba deixando o seu lado humanizador e humanizado para trás, vivendo somente a vida profissional. Quando falo em humanizador, quero dizer que pelo fato de hoje em dia o jornalismo ter se transformado em uma empresa, com seus vários departamentos que vão muito além da produção de texto, e essa produção não ser mais bancada pelo público consumidor e sim pelos patrocinadores da empresa, o editor deixa de lado aquela antiga característica de jornalismo cidadão que existiu no Brasil, para corresponder ao investimento que os anunciantes fizeram quando decidiram divulgar naquele meio de comunicação(publicidade). Isso é uma situação que entristece, porque se nem o jornalismo hoje se importa em procurar defender os direitos do povo, quem fará isso? O jornal impresso, por exemplo, já sai pago da gráfica. Não há preocupação com a aprovação ou não do conteúdo que está ali dentro dele.

O jornalista, principalmente o editor esqueceu qual é o seu papel, assim como um médico, que ao presenciar um acidente, deixa de dar assistência, esperando que o ferido vá a sua clinica ou hospital onde trabalha para que possa obter lucro com aquilo, ele esquece o juramento que fez de salvar vidas no dia de sua formatura. É o que acontece com o jornalista, mas em um contexto diferente.



Editores em seus belos cargos, ganham benefícios, tem uma bela vida social, ficam cercados e às vezes sufocados pelo assédio de quem quer “aparecer”. Ele se sente importante, e esquece que importante mesmo é o compromisso com a verdade, e que quando outro editor, melhor do que ele roubar o seu lugar, ele acabará esquecido. Será apenas mais um nesse enorme e desigual planeta em que vivemos.

É preciso rever o papel da edição. Fazer escolhas, qualquer que seja, sempre beneficiará alguém, mas também irá prejudicar alguns. O editor hoje é uma máquina de tomar decisões. Mas não deveria ser assim, todo editor deveria ser poeta, por quê? Quem melhor que um romântico para cortar palavras? Se além de tomador de decisões, ele é o responsável pela revisão de textos, pelas escolhas, pelo fechamento. Talvez assim, a procura pelo jornal impresso, por exemplo, aumentasse. Um texto escrito melhor, sem ter que ser aquela velha receita de bolo: lead (quem, quando, como, onde e por que?), “aprofundamento” e finalização (que propõe reflexão nem dá solução para o fato exposto). O jornalismo brasileiro se espelha no jornalismo americano, no espetáculo e na uniformização do texto, seja ele factual ou não. Mas nem na América se escreve mais assim. Enquanto o jornalismo evoluiu pelo mundo, o brasileiro parou no tempo, conformado, assim como o seu povo. E isso só vai mudar quando o editor, o tomador de decisões, permitir que os jornalistas, produtores, pauteiros... exerçam a sua atividade como deve ser feita, com compromisso com o público e não com quem paga para aparecer.

3 comentários:

  1. Olá Rafaela, gostei do seu texto sim. Um texto é um convite para pensar em alguma coisa, não? Eu sou editor e felizmente posso dizer que não vivencio esse problema que você ressaltou. Mas o mito impera e se num momento edito um texto em que encontra pouca humanidade em outro encontro o extremo oposto com ideias pouco refletidas no quanto aquilo poderá contribuir para a outra pessoa. Dentro do que você mesma colocou, penso que o problema esteja mesmo em nós, na cultura que vivemos e legamos aos próximos. Precisamos criar um novo futuro, sonhar com ele e compartilhar até que encontremos um objetivo profundo e comum. Um abraço e parabéns pelo trabalho.

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  2. Só mais uma coisa. Gostei do conceito que criou para o blog. In-parcial. Valeu!

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  3. Obrigada por vir aqui. O problema do editor é bem mais complexo. Além de enfrentar seus afazeres ainda tem sempre alguem superiot a ele nessa hierarquia. seu chefe maior que também é pau mandado de alguém, quase sempre politicos... É complicado tentar mudar, mas só provocar a discussão aqui, pasa mim já é muita coisa!

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