segunda-feira, 13 de junho de 2011

Descreva: dor



Uma caminhada longa não é fácil. Ainda mais quando se trata de uma situação como essa. De que adianta resistência e força física quando o coração está profundamente ferido?

Passear pelas ruas carregando a coroa de um rei, que não tem reino e agora está morto. Homenagem?

Imagem: Um homem ligeiramente acima do peso, agora mais parece um retrato “mais-que-realista” de um judeu morto na segunda guerra.

O câncer, ah... o câncer... esse fez de alguém que acreditava ter atingido a “casa” dos oitenta com saúde conhecer a dor que ele mesmo e a incerteza do tempo são capazes de proporcionar.

Ossos quebrados, lágrimas e gemidos misturados com o som da oração de um filho que reza sem ter certeza do que seria realmente o melhor para o seu pai, então dizer: “Senhor, faz o que for melhor para ele. Amém.”


Conhecido por todos da cidade, é incrivelmente inacreditável perceber o tom pasmo no rosto dos que já, há muito tempo o tinham como o taxista favorito. A tristeza tem uma cor sombria.

Familiares se abraçam e caminham em fila indiana, tristes. No rosto um gosto de água salgada com tempero de “the end”.

Naquela caixa de concreto e mármore, restos de outros onde ele participou do ritual do fim. Pó, ossos e um buraco profundo. Quem vê, pensa: Meu Deus, o que é isso?

Se você quer fazer um bem a sociedade, contribua de alguma forma – qualquer que seja – para amenizar o sofrimento dessa gente que chora para sobreviver.

Essa gente dolorida, de cabelos ralinhos e olhos esperançosos merece sua dedicação...

Não chore, ele fez o que pôde.

Antes do ultimo suspiro, os olhos arregalados alertam: ele está olhando para algo que nós não conseguimos ver! Perceba...

A mistura de dor física e surpresa expressas na cor brilhante e opaca são o impasse de idéias que provocam as mentes dos religiosos versus cientistas: O que ele viu? Será que ele viu?


Não sei. Sei que durante o caminho até a ultima parada, assisti uma seleção de cenas que ele gostava. O milho verde da esquina do fórum, os amigos de praça, os vendedores...

Eu, carregando aquele peso, nas mãos e na cabeça, respondia os que encorajados perguntavam sem muito rodeio “quem morreu”, mesmo sem crer nas palavras que saiam da minha própria boca.


Quem explicará já que ele se foi para não mais voltar e ficar onde não sabemos o que existe por lá.

A dor dele se foi. A nossa permanece. Aqui só resta saudade de um homem. Ele era no mínimo um homem bom, e no máximo também!

2 comentários:

  1. Belo texto Rafa!
    A dor é grande, o que nos dá força são as recordações de todos os momentos bons e saber que onde quer que ele esteja ele está bem!

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