quarta-feira, 6 de abril de 2011

Baseada em uma História Real

3 de outubro de 2009, 3h da manhã... A garota reza:
Garota: - Deus, eu não aguento mais. Por favor, eu preciso dormir. Eu preciso conseguir uma noite de sono em paz. Me ajuda Senhor, me ajuda!
O motivo de uma oração tão angustiada?

3 de agosto de 2009, 19:30H...
O quarto estava silencioso, enquanto ela conversava com seus amigos e lia no computador. Lá fora, alguém deixa o portão principal sem estar trancado a chave. Ela estava tranqüila no segundo andar de seu apartamento... Tranquila e “segura”.

Lá vem ele, drogado, perturbado com seus problemas. Provavelmente endividado. A droga vai matar aquele garoto, cedo ou tarde. Talvez só tenha 16 anos... Negro, marginalizado, pobre, sem educação... Parece estereótipo de novela global, mas não é. Ele precisa de alguma coisa, de qualquer coisa que renda algo que possa pagar a quem deve, antes que ele tenha que pagar com a vida.

Aquela rua, deserta, escura, cheia de prédios, com todos dentro de suas casas vivendo suas noites entediantes e individualistas foi a sua escolha. Ele observou, andou, e não encontrava uma oportunidade, mas ele sabia que ali seria o lugar perfeito, ele conhecia o local, já visitava há muitos dias.

Aquele pequeno prédio era só mais um naquela rua. Mas, não era qualquer um... Porta semi-aberta, semi-fechada. Ele passou a mão na maçaneta e... Abriu-se, abriu a oportunidade... Subiu as escadas, os cadeados não significavam nada diante da força que ele ganhou com aquela ultima pedrinha. Ele seguiu, lance a lance... Portas fechadas, vidro... quebrá-los chamaria muita atenção... e agora?

Mais uma escada! Aonde ela vai dar? Pensou o rapaz. Telhado do prédio... Lá de cima, ele observa rápido o céu, os prédios, se sente dono do mundo... é o efeito da droga.

Na rua, nem sinal do vigia que a moça e suas colegas pagam religiosamente, todo dia 5 do mês.

O rapaz segue... Quebrando algumas telhas com seus passos pesados. Encontra o percolado, e vê a primeira janela aberta. Janela do segundo andar... Tudo muito fácil.

Aquela garota é arrogante. Calma demais para os que a conhecem no primeiro encontro. Ignorante, grosseira, impulsiva para os que convivem a mais tempo.
Ele desce devagar... qualquer passo errado, e a queda será fatal... é preciso força pois não há onde se apoiar bem... Coloca o primeiro pé por dentro da janela, depois o outro... Fica de pé em cima da cama. A garota se vira assustada e não entende a situação. Meio segundo depois ela grita:

Garota: - O que é que você quer na minha casa? Vá embora daqui agora, a policia vai chegar!
Rapaz: - Cala a boca, eu quero celular, dinheiro! Cala a boca! Cala a boca!

Ele, desarmado segura os dois braços da garota com uma mão só, com força. Olha o laptop dela, encontra um celular... segue para fora do quarto, a menina não consegue conter o choro, e soluça alto:

Garota: - Pelo amor de Deus, vá embora da minha casa, a policia vai chegar. Saia daqui.
Rapaz: - Cala a boca, senão eu te mato. Eu vou te matar, tá ouvindo? Tá ouvindo...

Ela chora... ele vê dinheiro na estante... mais de cem reais. Pega tudo, com a mão que está livre e põe no bolso. Depois do corredor, a cozinha. Ali, fácil, talheres a mostra. Ele estava desarmado, talvez por isso ela gritasse, ela tivesse com tanta coragem de gritar e pedir socorro, para que pelo menos a sua colega, do quarto ao lado, ligasse para a policia. Mesmo assim, foi pior. Ele pega uma faquinha de serra, tenta machucá-la.

Garoto: - Eu mandei você calar a boca, não mandei? Mandei! Cala a boca!
Garota: - AHH!! Sangue! Minha mão! Sangue! Ai meu Deus...

Ele tentou acertar o rosto dela. Ela soltou uma das mãos, pôs a frente do rosto antes disso. Ele apenas furou a mão da garota, mas foi o suficiente para escorrer pelo seu braço e assustar aquele garoto. Ele correu... e seguiu o mesmo caminho que fez quando tentou chegar ali.

Um celular e pouco mais de cem reais... A polícia chega, não chega a tempo, como sempre, mas chega. Pergunta o que aconteceu. Coleta os dados das moradoras do apartamento... As 21h eles se vão...

O irmão de uma das meninas chega ao prédio, tenta acalmá-las e dorme ali, fazendo companhia e tentando fazer com que elas se sintam um pouco mais seguras. Ele está cansado, dorme logo, depois de um longo dia de aula e trabalho... Já as duas meninas...
22h...
23...
23:30...
00:00h...

O celular de uma das meninas toca.

Policial: - Alô, boa noite! Aqui é o rapaz da Rotam que esteve ai no apartamento de vocês hoje. Tudo bem...

A moça, sem entender nada, responde:

Garota: - Sim, tudo bem. Faltou alguma coisa?

Policial: - Não, só queria saber se vocês estão bem. É... [silencio] Vocês estão dormindo sozinhas aí?

Ela escuta alguns risos ao fundo.

Garota: - Não, o irmão da minha amiga está aqui com a gente, só um minuto.

O rapaz acorda, e fala com o “policial” (o safado), e se sai bem da situação.
3 de outubro de 2009, 10h da manhã:

Garota: -Obrigada Deus, por atender minha oração. Obrigada por ser bom.

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Isso aconteceu. Isso aconteceu e pode acontecer com você. Reúna suas angustias, seja forte e supere. O mundo não tem pena do garoto, e ele não vai ter pena de você, como não teve de mim.

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